Apenas a Bíblia é suficiente para se obter a verdade espiritual?
Por Matt Slick– Tradução David Brito
De acordo com o catolicismo romano, a Sagrada Tradição e a Bíblia juntos fornecem a base da verdade espiritual. A partir desta combinação a Igreja Católica tem produzido muitas doutrinas que ela diz ser verdadeiras e bíblicas, mas que os protestantes rejeitam, por exemplo; veneração a Maria, penitência, indulgência, purgatório, oração aos santos, etc. O protestantismo, no entanto, rejeita estas doutrinas que são provenientes da sagrada tradição romana e apoia se na chamada “Sola Scriptura” ou “Somente as Escrituras”. Os católicos então desafiam: Sola Scriptura é bíblica?”
A Bíblia não diz: “Não use tradição” ou “Somente a Escritura é suficiente.” Mas a Bíblia também não diz: “A Trindade é três pessoas em um Deus”, ainda assim esta é uma doutrina fundamental do cristianismo. 2Tm 3:16 diz que as Escrituras são inspiradas e proveitosa para correção e o ensino. As escrituras afirmam que as Escrituras é que devem ser usadas para a correção e ensino, não a tradição. No entanto, nas suas observações sobre a tradição, a Bíblia diz para ouvir a tradição, mas também adverte sobre a tradição anulando o Evangelho como veremos abaixo;
Ao discutirmos a questão da Bíblia por si só ser suficiente, vários pontos devem ser considerados:
1) O método dos autores do Novo Testamento (e Jesus também) quando lidavam com as verdades espirituais era apelar para as Escrituras como a regra final de autoridade. Preste atenção nas palavras de Cristo em Mateus 4 como um exemplo. O Diabo tentou Jesus, mas Jesus usou a autoridade das Escrituras, não a tradição e nem mesmo Seu próprio poder divino como fonte de autoridade e refutação. Para Jesus, as Escrituras eram suficientes. Se houver qualquer lugar no Novo Testamento, onde a ideia de revelação extra-bíblica ou tradição poderia ter sido usada, a tentação de Jesus teria sido um ótimo lugar para apresentá-la. Mas Jesus não fez tal coisa. Sua prática era apelar à Escritura. Devemos fazer menos tendo em vista o Seu inspirado e perfeito exemplo?
Os escritores do Novo Testamento constantemente apelaram às Escrituras como sua base de autoridade para declarar o que era e não era um verdadeiro ensinamento bíblico: Mt. 21:42, João 2:22, 1 Coríntios. 15: 3-4,1 Pe 1:10-12, 2:2, 2 Pedro 1:17-19, etc. E é claro, Atos 17:11 diz: “Ora, estes eram mais nobres do que os de Tessalônica, porque receberam a palavra com toda avidez, examinando diariamente as Escrituras para ver se estas coisas eram assim“. Paulo elogiou aqueles que examinaram a Palavra de Deus para o teste da verdade. Ele não os elogiou por apelar à tradição.
Portanto, podemos ver que o método usado por Jesus e os apóstolos para determinar a verdade espiritual era apelar às Escrituras, não a tradição.
Na verdade, em muitos casos, são as Escrituras que refutam as tradições dos homens.
2) Não é obrigatório que as Escrituras tenham uma declaração especifica dizendo que “Somente a Bíblia é para ser usada em todas as verdade espirituais”, a fim de que a Sola Scriptura seja verdade. Muitas doutrinas da Bíblia não estão claramente definidas, mas elas são ensinadas pela Igreja. Por exemplo, não há nenhuma indicação na Bíblia que diga que há uma trindade, ou que Jesus tem duas naturezas (Deus e homem) ou que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade. No entanto, cada uma dessas afirmações são consideradas verdadeiras doutrinas do cristianismo derivadas de referências bíblicas. Assim, para que um católico possa exigir que o protestante forneça capítulo e versículo para provar que a Sola Scriptura é verdadeira, não é necessariamente compatível com os princípios bíblicos exegéticos os quais eles próprios aprovam ao examinar tais doutrinas como a Trindade, e a união hipostática, etc.
3) Ao apelar para a Bíblia para autenticação da Sagrada Tradição, os católicos têm mostrado que a Bíblia é superior a Sagrada Tradição, pois o menor é abençoado pelo maior (Heb 7: 7). Perceba que, se a Bíblia disser para não confiar na Sagrada Tradição, então a sagrada tradição católica seria instantaneamente e, obviamente, invalidada. Se a Bíblia disser para confiar na Sagrada Tradição, então a Bíblia estaria autenticando a tradição, e a Igreja Católica Romana citaria as Escrituras para validá-la. Em ambos os casos, as Escrituras detém a autoridade final e consequentemente está numa posição superior a Sagrada Tradição. Isto significa que a Sagrada Tradição não é igual em autoridade com a Palavra de Deus.
Se a Sagrada Tradição é realmente inerrante como se afirma, então seria igual à Bíblia. Mas, a Palavra de Deus não diz que a Sagrada Tradição é inerrante e inspirada como afirmam as escrituras de si mesma (2Tm. 3:16). Meramente afirmar que a Sagrada Tradição é igual e de pleno acordo com a Bíblia não a faz ser. Além disso, ao afirmar que a Sagrada Tradição é igual as Escrituras, deixa efetivamente o cânone aberto para adições doutrinárias. Uma vez que as tradições dos homens mudam, ao usar tradição como um determinante de verdades espirituais, significa que ao longo do tempo novas doutrinas que não estão na Bíblia seriam acrescentadas, e é exatamente o que aconteceu no catolicismo, como por exemplo; A doutrina do purgatório, orar a Maria, indulgências, etc., além disso, se eles podem usar a Sagrada Tradição como fonte de doutrinas não explícitas na Bíblia, então por que os mórmons estariam errados por terem adicionado suas doutrinas também?
4) Se a Bíblia não é usada para verificar e testar a Sagrada Tradição, então a Sagrada Tradição, é independente da Palavra de Deus. Se ela é independente das Escrituras, então, com que direito ela tem de existir como uma fonte de autoridade espiritual equivalente a Bíblia? Como é que sabemos o que é e não é verdade na Sagrada Tradição se não houver nenhuma guia inspirado pelos quais possamos julgá-la? Se a Igreja Católica Romana diz que o guia inspirado é a Igreja Católica Romana, então ela está cometendo a falácia do raciocínio circular. Em outras palavras, ela está dizendo que a Igreja Católica Romana é inspirada porque a Igreja Católica Romana é inspirada.
5) Se a Sagrada Tradição contradizer a bíblia, ela será automaticamente invalidada, e ela o faz. Claro, a igreja católica vai dizer que isso não acontece. Mas, os ensinamentos católicos, como purgatório, penitência, indulgências, orar a Maria, etc., não estão na Bíblia. Uma leitura natural da Palavra de Deus jamais levaria a tais crenças e práticas. Em vez disso, a Igreja Católica tem usado a Sagrada Tradição para adicionar ensinos a Palavra revelada de Deus e, em seguida, extraí da Bíblia versos que podem ser interpretado de forma a apoiar as suas doutrinas da Sagrada Tradição.
No entanto, o apologista católico afirmará que tanto a Bíblia, como a sagrada tradição é igual em autoridade e inspiração, e colocar uma sobre a outra é uma falsa comparação. Mas, com qual autoridade que a Igreja Católica diz isso? Será que é porque ela afirma ser a verdadeira igreja, e descendentes dos apóstolos originais? verdade!? Apenas fazer tais alegações não fará as alegações verdadeiras. Além disso, mesmo se fosse verdade, (o que não é), não há garantias de que as sucessões de líderes da igreja estejam imunes ao erro. Temos o exemplo de Pedro, o qual foi repreendido por Paulo Gl. 2:11,12 Seriam os líderes das igrejas católicas melhores do que Pedro?
Para continuar, é da tradição que a Igreja Católica autentica sua Sagrada Tradição? Se sim, então não nada pode ser verificado. É a partir de citações de alguns dos Pais da Igreja, que dizem seguir a tradição? Se assim for, então aos pais da Igreja é dado o lugar de autoridade comparável às Escrituras. É a partir da Bíblia? Se assim for, então a Sagrada Tradição detém uma posição menor do que a Bíblia porque a Bíblia é usada como a autoridade na validação da Sagrada Tradição. Será que é porque a Igreja Católica afirma ser o meio pelo qual Deus comunica a sua verdade? Então, a Igreja Católica colocou-se acima das Escrituras.
6) Um dos erros cometidos pelos católicos é assumir que a Bíblia é derivada da Sagrada Tradição. Isso é falso. A Igreja simplesmente reconheceu os escritos inspirados da Bíblia. As escrituras tem autoridade em si mesma. Várias “tradições” da Igreja serviram apenas para reconhecer o que era de Deus. Além disso, para dizer que a Bíblia é derivada da Sagrada Tradição faz com que a Bíblia se torne menor do que a Tradição como é afirmado no Hb. 7:7 que o menor é abençoado pelo maior. Mas isso não funciona, pois o catolicismo usa a Bíblia para autenticar sua tradição.
Conclusão
Uma vez que a Bíblia é a autoridade final, devemos olhar para ela como uma fonte de autenticação inerrante de todas as verdades espirituais. Se ela disser que a Sagrada Tradição é válida, assim será. Mas, se isso não acontecer então eu vou confiar somente nas escrituras. Visto que a Bíblia não aprova a Sagrada Tradição da Igreja Católica, junto com suas invenções de oração a Maria, oração aos santos, indulgências, penitência, purgatório, etc., os cristãos também não deveriam.
Objeções respondidas
A bíblia vem da tradição da Igreja católica romana.
O problema é duplo. Primeiro, a tradição é geralmente qualquer coisa que a igreja cristã transmitir e não requer qualquer tipo de inspiração. Mas o catolicismo romano afirma essa tradição genérica sob a égide da Sagrada Tradição. Esta é a falácia do equívoco. Em outras palavras, o significado do termo “tradição” é alterado entre a primeira e segunda referência.
Não há nenhuma prova de que a tradição sagrada da ICAR seja inspirada. Ao contrário, há indícios de que ela é falha, particularmente quando se compara o que revelou (purgatório, Maria-adoração, penitência, indulgências, etc.,) com a Escritura e tais doutrinas não estão apenas ausentes das Escrituras, mas contradizem a mesma.
Em segundo lugar, ela assume que a Igreja Católica Romana produziu a Bíblia. A ICAR não produziu a Bíblia. Deus produziu a Bíblia, e a Igreja cristã reconheceu a Palavra de Deus (João 10:27) e aprovou o que Deus já havia autorizado.
Dizer que a ICAR nos deu a Bíblia é dizer que a ICAR tem o direito de dizer qual o real significado da mesma. Isso é problemático, pois neste caso, como vamos verificar se o que a ICAR diz sobre a bíblia está correto?
Sagrada Tradição é a revelação, e, portanto, é igual à Escritura.
- Na melhor das hipóteses, isso é apenas uma afirmação que não pode ser demonstrada ser falsa, comparando as revelações supostamente dadas através da Sagrada Tradição com a Palavra de Deus. Como mencionado acima, existem muitas dessas doutrinas inventadas por pessoas que não são encontrados na Palavra de Deus e até mesmo a contradizem.
- A Bíblia nos diz claramente que a Escritura é divinamente inspirada. Não existe tal afirmação quanto a tradição. Na verdade, embora a Bíblia nos diga para seguir a tradição, ela também nos diz para ter cuidado com ela. Portanto, a tradição não pode ser inspirada se a Palavra de Deus nos adverte dos perigos em segui-la.
- A Bíblia está para a tradição, onde apóia os ensinamentos dos apóstolos (2 Ts. 2:15) e é coerente com a revelação bíblica. No entanto, é contra a tradição quando “transgridem os mandamentos de Deus” (Mt.15:3). Pelas próprias palavras de Jesus, a verdadeira tradição não transgredem ou contradiz os mandamentos de Deus. Em outras palavras, ela deve estar em harmonia com o ensino bíblico e de nenhuma maneira se opõem a ele. Consulte “catolicismo romano, a Bíblia, e Tradição”. A Bíblia nos diz claramente que ela é o padrão da verdade. Não podemos ir além do que as Escrituras dizem. “Ora, irmãos, estas coisas eu as apliquei figuradamente a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, de modo que nenhum de vós se ensoberbeça a favor de um contra outro” (1Cor. 4:6).
- Hb. 7:7 não é sobre a Escritura, mas sobre as pessoas, e não pode ser usada para sujeitar a Sagrada Tradição à Bíblia.
- É verdade que Hb. 7:7 trata de pessoas e não das escrituras. Mas, há mais no texto do que pessoas. Hb. 7:4-10,
“Considerai, portanto, como era grande esse homem a quem até mesmo o patriarca Abraão entregou todo o dízimo dos despojos! Ora, os que dentre os filhos de Levi receberam o sacerdócio têm o mandamento de recolher, de acordo com a Lei, os dízimos do povo, isto é, dos seus irmãos, ainda que tenham todos estes descendido de Abraão; contudo, este homem que não pertencia à genealogia de Levi, recebeu os dízimos de Abraão e abençoou aquele que tinha as promessas. Evidentemente, não pode haver qualquer dúvida de que o inferior é abençoado pelo superior. No primeiro caso, são homens mortais que recebem o dízimo; no outro caso, entretanto, é aquele de quem se testifica que vive. E, por assim dizer, pode-se entender que Levi, que recebe os dízimos, entregou-os por meio de Abraão, pois, quando Melquisedeque se encontrou com Abraão, Levi ainda não havia sido gerado por seu pai. O sacerdócio de Cristo é eterno.“
O escritor de Hebreus está mencionando conceitos diferentes, bem como fatos históricos. Ele menciona o dízimo, descendentes de Abraão, o menor é abençoado pelo maior, e autoridade.
É o conceito da maior autoridade em abençoar o menor em autoridade que está sendo examinada aqui neste artigo. Sabemos que existe um princípio da maior autoridade em abençoar o menor.
Podemos também aplicar esse mesmo princípio de autoridade para validar a alegação da Igreja Católica Romana sobre a Sagrada Tradição em estar em igualdade com a autoridade das Escrituras? Sim. Afinal, a Igreja Católica Romana apela às Escrituras para apoiar a sua Sagrada Tradição. Ao fazê-lo, ela submete-se à autoridade das Escrituras para a validação do seu princípio.