O Livro de Abraão, os Papiros e Joseph Smith
São muitas as evidências que provam que Joseph Smith foi um falso profeta, porém os mórmons normalmente não as aceitam. Sejam evidências bíblicas que contradizem a teologia mórmon ou contradições dentro da própria história e doutrina mórmon, é abundante a quantidade de provas. Porém os mórmons, completamente dedicados à religião e ao testemunho, não conseguem e nem conseguirão enxergar as evidências. Os mórmons não baseiam sua fé em evidências bíblicas ou históricas, mas preferem confiar no “testemunho” de que o Mormonismo é a igreja restaurada e que Joseph Smith é seu verdadeiro profeta.
Uma das formas de se testar se uma crença tem ou não fundamento é verificar se é possível ou não prová-la verdadeira ou falsa. Se alguém disser: “Não me importam as evidências que você mostrar, eu sempre acreditarei”, está claro que a fé dessa pessoa não tem fundamento. O Cristianismo, por ser uma religião que tem história, crucificação, ressurreição, um túmulo vazio e etc., é uma religião fundada sobre fatos e eventos reais. Assim, se pudesse ser provado, sem dúvida alguma, que Jesus não ressuscitou dos mortos, o Cristianismo seria uma falsa religião. Então, do mesmo modo, se pudesse ser provado que Joseph Smith foi um falso profeta, o Mormonismo seria uma falsa religião. O que acontece é que tal prova existe.
O Livro de Abraão
Joseph Smith declarou que um anjo lhe apareceu e revelou a ele onde encontrar umas placas de ouro nas quais estão escritos os registros de um povo antigo das Américas. Algum tempo depois, ele traduziu aquelas placas no que é hoje conhecido como o Livro de Mórmon. Essa tradução foi feita por intermédio do poder de Deus usando-se meios especiais. Assim, Joseph Smith, por ser o instrumento escolhido de Deus, tornou-se o profeta da Igreja Mórmon e ocupou a posição de vidente. Um vidente, segundo o Livro de Mórmon, em Mosias 8:13, é capaz de traduzir coisas que são intraduzíveis. Por isso, ele pôde traduzir as placas de ouro no Livro de Mórmon. Mas suas habilidades de vidente não pararam por aí.
Em julho de 1835, um irlandês chamado Michael Chandler trouxe uma exposição de quatro múmias e papiros egípcios para Kirtland, Ohio, sede dos mórmons na época. Os papiros continham hieróglifos egípcios. Em 1835, ainda não era possível decifrar hieróglifos.
Porque era profeta e vidente da Igreja Mórmon, Joseph Smith teve permissão de examinar os rolos de papiro e, para a surpresa de todos, revelou que “um dos rolos continha os escritos de Abraão e que outro continha os de José do Egito.”1 A Igreja comprou a exposição por $2,400 dólares. Algum tempo mais tarde, Joseph terminou a tradução do Livro de Abraão, mas o Livro de José nunca foi traduzido. Pouco tempo depois, os papiros foram perdidos e concluiu-se que tinham sido destruídos em um incêndio em Chicago, em 1871. Não houve, desta forma, como se comprovar a tradução de Joseph. Se os papiros fossem reencontrados e traduzidos, seria possível confirmar ou não as habilidades de Joseph Smith como profeta de Deus. Afinal de contas, acredita-se que ele era um profeta e que possuía as habilidades de um vidente, conforme o Livro de Mórmon e o Livro de Abraão supostamente provaram.
Em outubro de 1880, a coleção de escritos Pérola de Grande Valor, que contém o Livro de Abraão, foi reconhecida como Escritura pela Igreja Mórmon.
Os Papiros são encontrados
Para a surpresa de todos, os papiros foram reencontrados em 1966 em um dos cofres do Museu de Arte de Nova York. Um jornal local, The Desert News, de Salt Lake City, publicou a redescoberta em 27 de novembro de 1967. No verso do papiro havia “os desenhos de um templo e os mapas de Kirtland, região de Ohio.2 Não se tinham dúvidas de que este era o documento original a partir do qual Joseph Smith traduziu o Livro de Abraão.
Com a redescoberta dos papiros e já sendo possível decifrar os hieróglifos egípcios desde o fim da década de 1800, seria uma tarefa fácil traduzir os papiros e provar de uma vez por todas que Joseph Smith era um profeta com o dom da “vidência” como ele mesmo e a Igreja Mórmon declararam. O que provaria que o Livro de Mórmon e o Livro de Abraão são verdadeiros e o confirmaria como um verdadeiro profeta de Deus.
O que dizem os peritos?
Joseph Smith copiou três gravuras dos papiros egípcios, rotulados de fac-símile No. 1, No. 2 e No. 3, e os inseriu no Livro de Abraão com a explicação de seus significados. Os egiptólogos que examinaram as gravuras descobriram que a interpretação de Joseph Smith era incorreta. Mas, os mórmons, em defesa de seu livro sagrado, justificaram-se dizendo que apenas os fac-símiles não eram suficientes para provar que Joseph Smith se enganou a respeito de suas habilidades como tradutor. Com a redescoberta dos papiros, foi possível saber que não somente as gravuras eram as mesmas do rolo, mas também o texto era o mesmo a partir do qual Joseph Smith traduziu. Agora era possível determinar com toda certeza a precisão de sua tradução.
Fac-símile No. 1
Joseph Smith disse que, no fac-símile No. 1, o pássaro representava o “Anjo do Senhor” e “Abraão amarrado sobre o altar” estava “sendo oferecido como sacrifício por um falso sacerdote”. Os jarros em baixo do altar representavam vários deuses: “Elquena, Libna, Mamacra, Corás, Faraó”, etc. Mas na realidade, esta gravura representa “a cena de um embalsamento na qual o falecido está deitado sobre uma cama em forma de leão.”3
Nos papiros originais, esta gravura estava anexada a hieróglifos (veja a figura A), a partir dos quais Joseph Smith traduziu o início do Livro de Abraão, que começa com as seguintes palavras: “Na terra dos caldeus, na residência de meus pais, eu, Abraão, vi que me era necessário encontrar outro lugar para morar” (1:1). A tradução dos hieróglifos é, na realidade, a seguinte: ” Osíris será conduzido ao grande lago de Khons – e da mesma forma Osíris Hor, justificado, nascido de Tikhebyt, justificado – após seus braços serem posicionados sobre o coração e o Livro das Respirações (o qual [Ísis] fez e contém escritos no seu interior e exterior) for envolto em linho real e colocado embaixo de seu braço esquerdo, perto do coração; pode-se, então, envolvê-lo com o restante das bandagens de mumificação. O homem para o qual este livro foi copiado irá respirar para sempre e sempre, assim como as almas dos deuses.”4
“É a introdução de um Shait en Sensen Egípcio, ou Livro das Respirações (…) um texto funerário recente que se desenvolveu a partir do antigo e mais complexo Livro dos Mortos”.
“Este rolo de papiro, em particular, foi preparado (como determinava a escrita, grafia, conteúdo, etc.) em algum momento durante o fim do período ptolomaico ou começo do período romano (aproximadamente entre 50 a.C. e 50 d. C).”5
Figura A
A figura A é uma reconstrução profissional do original (figura B). Observe os hieróglifos do lado direito, foi a partir deles que Joseph Smith começou a tradução do Livro de Abraão.
Na realidade, eles “descrevem o embalsamamento e a ressurreição mitológica de Osíris, deus egípcio do submundo. Osíris foi assassinado por seu invejoso irmão Set, que cortou seu corpo em dezesseis partes e as espalhou pelo Egito…O deus Anúbis, com cabeça de chacal, está embalsamando o corpo de Osíris sobre a tradicional cama em forma de leão para que ele possa voltar à vida…”6
Figura B
A figura B (à direita) é uma reimpressão do papiro que Joseph Smith usou. Observe as áreas falhas no papiro. Joseph Smith “completou” a gravura a partir deste papiro, o que resultou no fac-símile No. 1. De acordo com os egiptólogos, a restauração de Joseph revela uma total falta de entendimento da teologia e das práticas egípcias.
Fac-símile No. 2
Conforme Joseph Smith explicou e incluiu na Pérola de Grande Valor, a segunda gravura contém várias cenas, as quais ele interpretou da seguinte forma: “Colobe, que significa a primeira criação, a mais próxima do celeste, ou seja, da morada de Deus.” “Fica perto de Colobe, chamada pelos egípcios Oliblis, que é a seguinte grande criação governante próxima do celeste, que é o lugar onde Deus reside.” “Deus sentado em seu trono, revestido de poder e autoridade.” “(…) este também é um dos planetas governantes, o qual os egípcios dizem ser o Sol, e que toma emprestada a luz de Colobe, por meio de Cae-e-vanrás, que é a Chave suprema (…)”
Porém, mais uma vez, os estudiosos discordam da interpretação de Joseph. “Na realidade, é um amuleto funerário muito comum denominado de hipocéfalo, foi assim nomeado porque era colocado embaixo (hipo) da cabeça da múmia (céfalo). O propósito do amuleto era manter o morto aquecido e proteger o corpo para que não fosse profanado por usurpadores de túmulo.7
Fac-símile No. 3
Segundo Joseph Smith, esta gravura representa: “Abraão sentado no trono do Faraó, por cortesia do rei, com uma coroa na cabeça representando o Sacerdócio (…) O rei Faraó, cujo nome é dado nos caracteres acima de sua cabeça; Significa Abraão no Egito (…); Olinla, escravo pertencente ao príncipe.”
Mas não é este o significado que os egiptólogos dizem ter o fac-símile No. 3. Ao contrário do que Joseph interpretou, o fac-símile No. 3 mostra “o morto sendo levado diante de Osíris, deus dos mortos, e atrás de Osíris, que está sentado no trono, está sua esposa Ísis.”8
Conclusão
Qualquer pessoa agora deve ser capaz de ver – depois do que os estudiosos atuais revelaram – que Joseph Smith não traduziu o Livro de Abraão por intermédio do poder de Deus como tinha declarado. Acontece que se ele não traduziu o Livro de Abraão por intermédio do poder de Deus, então, é muito fácil concluir que ele também não traduziu o Livro de Mórmon por intermédio do poder de Deus.
Quando Joseph Smith apresentou sua tradução, os hieróglifos ainda não podiam ser decifrados, mas hoje eles podem. Ele tinha a liberdade de dizer qualquer coisa que quisesse e não haveria como refutá-lo. Porém, com o aparecimento do mesmo papiro que ele utilizou para fazer a tradução do livro de Abraão, e o fato de que ele não chegou nem perto de traduzi-lo corretamente, já deveriam ser provas suficientes de que Joseph Smith mentiu sobre as habilidades que disse lhe terem sido confiadas por Deus. Foi, assim, provado, que Joseph Smith é um falso profeta.9