Mormonismo

Salmo 110:1 e o Mormonismo

Na teologia mórmon, o nome “Jeová” (YHWH, Yahweh, o nome pessoal do Deus de Israel no Antigo Testamento) é exclusivamente o nome do Jesus Cristo pré-encarnado. 

 Eles negam que Deus o Pai seja Jeová. Os Mórmons não acreditam na Trindade Bíblica (que existe um e apenas um Deus que existe em três pessoas distintas). Eles acreditam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três seres divinos diferentes, três deuses distintos. O Pai, de acordo com o Mormonismo, é uma divindade inteiramente separada do Filho. “Jeová” é o nome do Filho, não do Pai. 

Agora, é verdade que há apenas um Jeová. A Bíblia conhece um e apenas um Deus em toda a existência, e YWHW (Yahweh, Jeová) é o nome pessoal desse Deus. Também é verdade que o Novo Testamento frequentemente identifica o Filho como Jeová. Problemático para os mórmons, no entanto, é o fato de que a Bíblia também identifica o Pai e o Espírito como Jeová. Isso é perfeitamente consistente com a perspectiva trinitária de que Jeová é um ser que existe em três pessoas (na verdade, exige essa perspectiva). No entanto, contradiz completamente a noção mórmon de que Jeová é um dos muitos deuses e que somente o Filho, Jesus Cristo, é Jeová. Que o Pai também é Jeová é facilmente demonstrado através de um versículo do Antigo Testamento que faz parte de uma das passagens mais citadas pelos autores do Novo Testamento: 

“O Senhor diz ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés’” (Salmo 110:1). 

É importante notar aqui que, embora o texto em inglês tenha a palavra “Senhor” duas vezes, na verdade são duas palavras hebraicas diferentes. O primeiro “Senhor” é o nome pessoal YHWH (Jeová). O Segundo “Senhor” é uma forma da palavra hebraica “adon” que significa simplesmente “Mestre”. Então, Davi está dizendo neste Salmo que “Jeová diz ao meu Mestre, sente-se à minha direita…” Jesus deixa claro que esta passagem é messiânica: 

“Enquanto os fariseus estavam reunidos, Jesus lhes fez uma pergunta: ‘O que vocês acham do Cristo, de quem é filho?’ Eles lhe disseram: ‘O filho de Davi’. Ele lhes disse: ‘Então, como Davi, no Espírito, O chama de ‘Senhor’, dizendo: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés’? Se Davi então O chama de ‘Senhor’, como Ele é seu filho?” Ninguém foi capaz de responder-lhe uma palavra, nem ninguém ousou a partir daquele dia fazer-lhe outra pergunta” (Mateus 22:41-46, ver também Marcos 12:35-37, Lucas 20:41-44). 

O ponto de Jesus aqui é que Davi chama o Messias de seu Mestre, então o Messias não pode ser meramente filho de Davi. O Messias deve realmente ser maior que Davi para ser o Mestre de Davi. Mas, ao dizer isso, Jesus deixa claro que o Messias é “meu Mestre” a quem Jeová está falando. Jeová, nesta passagem, refere-se ao Pai que está falando com o Filho, o Messias, o Mestre de Davi. Assim, o Nome “Jeová” é aplicado ao Pai. No entanto, há apenas um Jeová. Jeová é um nome pessoal que se aplica apenas ao único e verdadeiro Deus de Israel. O Mórmon já sabe que o Filho é Jeová, mas essa passagem deixa claro que o Pai também é Jeová. Caso haja alguma dúvida aqui, Jesus afirma esta interpretação novamente mais tarde em Seu julgamento: 

“Disse-lhe Jesus: ‘Tu mesmo o disseste; não obstante, digo-vos que, doravante, vereis o Filho do Homem assentado à destra do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu‘” (Mateus 26:64, ver também Marcos 14:62, Lucas 22:69). 

Há um acordo unânime entre os estudiosos de que Jesus aqui coloca o Salmo 110:1 e Daniel 7 juntos, proclamando-se o Filho do Homem que está entronizado com o Ancião de Dias, bem como sendo o “mestre” que está sentado à direita de Jeová. Os apóstolos de Jesus também continuaram com essa interpretação. Pedro, por exemplo, cita o Salmo 110:1 a respeito de Jesus em seu sermão em Atos 2: 

Pois não foi Davi quem subiu ao céu, mas ele mesmo diz: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés” (Atos 2:34- 35). 

Aquele que subiu ao céu para sentar-se à direita de Jeová não era Davi, mas sim o mestre de Davi, o Messias. Jesus subiu ao céu para sentar-se à direita do Pai. O Pai é Jeová.  

Em uma das cartas do próprio Pedro, ele faz esse mesmo ponto, proclamando a ressurreição de Jesus Cristo, “que está à direita de Deus, tendo subido para o céu, depois que os anjos, as autoridades e os poderes lhe foram sujeitos” (1 Pedro 3:22). O Livro de Atos também aponta para esta passagem novamente na visão de Estêvão pouco antes de sua morte: 

Mas, cheio do Espírito Santo, olhou fixamente para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus em pé à direita de Deus; e ele disse: ‘Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé à direita de Deus” (Atos 7:55-56). 

Tudo isso faz alusão a Jesus como a figura do “meu Mestre” à direita de Jeová (o Pai) no Salmo 110:1. O Livro de Hebreus faz o mesmo ponto mais uma vez. No primeiro capítulo, várias passagens são citadas para mostrar a divindade de Jesus e Sua superioridade única sobre até mesmo os anjos celestiais. Estes são apresentados como Deus Pai falando com (ou sobre) o Filho. Por exemplo, diz: 

“Pois a qual dos anjos Ele alguma vez disse: ‘Tu és meu Filho, hoje te gerei’? E novamente: ‘Eu serei um Pai para Ele e Ele será um Filho para Mim’?” (Hebreus 1:5). 

É neste contexto, o Pai falando ao Filho, que lemos: 

Mas a qual dos anjos Ele já disse: ‘Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés?” (Hebreus 1:13). 

O Pai (Jeová) diz ao Filho (meu mestre), “senta-te à minha direita…” etc. A mesma identificação é feita mais adiante no livro: 

“Todo sacerdote permanece diariamente ministrando e oferecendo de tempos em tempos os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas Ele [Jesus], tendo oferecido um único sacrifício pelos pecados para sempre, assentou-se à destra de Deus, esperando desde então até que os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés” (Hebreus 10:11-13).  

Novamente, o Pai é aquele que fala no Salmo 110:1 (Jeová) o Filho é aquele a quem se dirige (o Mestre de Davi). O Pai é identificado como Jeová. O Livro de Hebreus continua a se basear neste Salmo dessa maneira precisa. Por exemplo, o Salmo 110:4 diz: 

O Senhor (YHWH, Jeová) jurou e não mudará de ideia: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque‘” 

Jeová está jurando à pessoa que Davi chama de,”meu Senhor/Mestre”, que eles são sacerdotes para sempre de acordo com a ordem de Melquisedeque. O autor do Livro de Hebreus explica: 

Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo para se tornar sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: ‘Tu és meu Filho, hoje te gerei’; assim como Ele diz também em outra passagem: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebreus 5:5-6).

“Jesus entrou como nosso precursor, feito sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebreus 6:20). 

Muito claramente aqui, o Pai diz ao Filho: “Tu és sacerdote para sempre…” O Pai é Jeová. O Pai não é o Filho. São duas pessoas distintas e interativas. No entanto, ambos são Jeová, e há apenas um ser individual cujo nome é Jeová. Um Deus, um ser, que existe como múltiplas pessoas. Este é o Deus da Bíblia e o Deus do cristianismo histórico, não o deus do mormonismo.

Matt Slick

Matt Slick é o presidente e fundador do Christian Apologetics and Research Ministry. Formado em Ciências sociais pelo Concordia University, Irvine, CA, em 1988. Bacharel em ciências da religião e mestre em apologética pelo Westminster Theological Seminary in Escondido, Califórnia