Mormonismo

Deus Pai foi visto em Daniel 7?

Uma afirmação fundamental no Mormonismo é que seu fundador, Joseph Smith, foi chamado quando jovem, quando o mormonismo alega que Deus Pai e Jesus Cristo apareceram para ele. Se puder ser verificado que este evento nunca aconteceu, então seria uma prova irrefutável de que Joseph Smith é um falso profeta, e toda a religião Mórmon da mesma forma, se mostrará falsa.

Mas podemos provar que Joseph Smith mentiu?

A resposta é um sonoro SIM! biblicamente, essa afirmação é altamente problemática pela simples razão de que a Bíblia ensina que Deus, o Pai, não pode ser visto. Confrontados com isso, os mórmons muitas vezes tentam contornar isso apontando para casos na Bíblia que eles acreditam serem exceções a essa regra. Um dos exemplos disso que à primeira vista parece o mais convincente é Daniel 7:9-14 .  Entretanto, se em seu contexto, esta passagem não é de forma alguma contrária ao ensino claro das Escrituras que claramente ensinam que  os homens não viram e não podem ver Deus Pai.

Um resumo do ensino bíblico: Podemos ver Deus Pai?

 Antes de voltar a Daniel 7, pode ser útil ter em mente as afirmações diretas encontradas em alguns dos textos-chave sobre este assunto. O evangelho de João, por exemplo, é especialmente explícito, começando com a afirmação:

18Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.” (João 1:18. JFA).

A afirmação bíblica diz claramente que ninguém, jamais viu a Deus, nunca. A linguagem aqui é absoluta. O termo “Deus” na frase “ninguém jamais viu a Deus” está sendo usado para se referir especificamente ao Pai, como pode ser visto na declaração esclarecedora de que o Filho, que está no seio do Pai, “declarou” (ou “revelou”) a Ele. 

O Pai é invisível e é revelado pelo Filho, assim como Paulo diz em Colossenses 1:15, onde descreve Jesus como a “imagem do Deus invisível”. Deus o Pai é invisível. Ele não pode ser visto. O Filho aparece diante dos homens e O dá a conhecer. João esclarece isso em outro lugar. O próprio Jesus diz, por exemplo:

44Ninguém pode vir a mim a menos que o Pai, o qual me enviou, o atrair; e Eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: ‘E serão todos ensinados por Deus’. Sendo assim, todo aquele que ouve o Pai e dele aprende, vem a mim. 46Não que alguém tenha visto o Pai, a não ser Aquele que vem de Deus. Só Ele viu o Pai” (João 6:44-46).

Jesus claramente se identifica como aquele que vem do Pai. Ele ressalta que ninguém viu o Pai, nem mesmo aqueles ensinados pelo Pai que vêm a Jesus. Somente o próprio Jesus, aquele que veio de Deus e é o Único Filho de Deus, viu o Pai. Nenhum mero homem jamais viu o Pai. Mesmo mais adiante em seu evangelho, João continuou afirmando isso, dizendo coisas como:

“ 12Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é aperfeiçoado em nós. 13Temos certeza de que permanecemos nele, e Ele em nós, porque Ele nos outorgou do seu Espírito. 14E vimos e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho para ser o Salvador do mundo.” (1 João 4:10-12).

 

Novamente, neste versículo em particular, o termo “Deus” está sendo usado especificamente para o Pai, como podemos ver quando diz que Deus “enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados”. Nesse contexto, ele novamente afirma: “Ninguém jamais viu Deus”. Paulo, da mesma forma, afirma as mesmas coisas em palavras ainda mais fortes, descrevendo o Pai como aquele que:

o único que possui imortalidade e habita em luz inacessível, a quem nenhum homem viu ou pode ver. A Ele seja a honra e o domínio eterno! Amém” (1Tm 6:16).

Nestes e em outros versículos, os autores do Novo Testamento deixam bem claro que Deus o Pai não pode ser visto.

Daniel contradiz isso?

O mórmon experiente, no entanto, vai parar você aqui e argumentar: “mas Daniel não viu Deus o Pai? E quanto a Daniel 7?

9Enquanto eu, pasmo, admirava esses animais, eis que tronos foram trazidos, e um ancião pleno de dias se assentou. Suas roupas eram brancas como a neve; e seus cabelos alvos como a pura lã. Seu trono estava todo envolvido por labaredas de fogo, e as rodas do trono eram chamas ardentes.
10De diante dele, brotava e fluía um rio de fogo. Milhares de milhares o serviam; milhões e milhões prostravam-se diante dele. Então o Tribunal deu início ao julgamento, e todos os livros foram abertos.

Daniel vê claramente uma figura distinta e visível com características descritíveis sentada em um trono. Essa figura, nos dizem, é o “Ancião dos Dias”, que é obviamente um título para Deus. Além disso, lemos apenas alguns versículos depois:

13E eu continuava contemplando minhas visões noturnas, quando vi que alguém semelhante a um ser humano vinha nas nuvens do céu. Ele se deslocou em direção ao ancião bem idoso e foi conduzido à sua presença.14E foi-lhe outorgada toda a autoridade, glória e posse do Reino, para que todos os povos, nações e línguas o adorem e o sirvam; o seu domínio é domínio eterno, que jamais terá fim; e o seu Reino jamais será destruído.” (Daniel 7:13-14).

A figura no trono, o “Ancião de Dias”, é distinta do “Filho do Homem” que sabemos ser Deus Filho (ou seja, Jesus). Assim, o “Ancião de Dias” parece ser uma referência a Deus Pai aqui. Então, se Daniel  o Ancião de Dias, não é este um caso aberto e fechado de alguém vendo Deus o Pai? 

Na verdade, não, não é. Não se você ler o capítulo inteiro. Nada do que Daniel “vê” neste capítulo está literalmente lá. A primeira linha é:

No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, Daniel teve um sonho e visões em sua mente enquanto estava deitado em sua cama; então ele escreveu o sonho e relatou o seguinte resumo dele” (Daniel 7:1).

Este é um sonho, não um encontro físico com Deus Pai em uma forma de vida real. No sonho, Daniel vê reinos humanos através dos tempos, mas não os vê como reinos reais. Ele os vê simbolicamente como animais e bestas. Não eram imagens de coisas, mas sim símbolos que as representavam metaforicamente em imagens bizarras e sonhadoras que exigiam interpretação. Quando Daniel viu um leão alado, ele não estava literalmente vendo Babilônia. O que ele viu foi uma imagem que representava profeticamente e simbolicamente Babilônia. Da mesma forma, a figura do “Ancião de Dias” que Daniel viu em um trono em chamas não era literalmente Deus Pai. Era um símbolo que representava o julgamento do Pai sobre aquela nação representada pelo quarto animal. De fato, assim como o anjo tem que dizer a Daniel que os animais representam reinos, ele também tem que dizer a Daniel que a figura do “Ancião de Dias” representa o julgamento final de Deus sobre esses reinos. Daniel não sabia disso automaticamente. Mesmo o termo “Ancião de Dias” não é usado em nenhum outro lugar nas Escrituras. Era uma figura simbólica que aparece no sonho de Daniel, não uma imagem real do Pai (muito menos uma aparição literal). Daniel não viu realmente o Pai, e o texto é muito claro sobre isso. Foi um sonho altamente metafórico.

Joseph Smith, no entanto, não afirmou que teve um sonho em que uma figura representava o julgamento futuro de Deus Pai sobre as nações. Não, Joseph afirmou literalmente ver Deus o Pai em uma forma física da vida real.  E isso é algo que a Bíblia deixa bem claro que não aconteceu e não pode acontecer. As afirmações na primeira visão de Joseph Smith tornam absolutamente certo que ele não era um verdadeiro profeta de Deus.

 

Matt Slick

Matt Slick é o presidente e fundador do Christian Apologetics and Research Ministry. Formado em Ciências sociais pelo Concordia University, Irvine, CA, em 1988. Bacharel em ciências da religião e mestre em apologética pelo Westminster Theological Seminary in Escondido, Califórnia