Jesus se assenta à direita de Deus
Por Luke Wayne
Não, a posição de Jesus à direita do Pai não o faz um tipo de ser menor que Deus Pai nem contradiz a divindade de Cristo. Argumentos sobre este assunto existem de várias formas, mas nenhuma delas realmente estabelece algo que prove que Jesus não é divino ou entra em conflito com a compreensão adequada da doutrina da Trindade.
O argumento foca no início do Salmo 110, um capítulo frequentemente citado no Novo Testamento como referência a Cristo:
“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.” (Salmo 110:1)
Como a maioria dos argumentos contra a Trindade, aqueles que são baseados nesse verso geralmente fazem pelo menos uma destas coisas:
- Deturpam o que os Trinitarianos realmente acreditam.
- Falsamente acreditam que uma distinção de papéis ou de funções significam inferioridade.
- Ignoram o significado da encarnação.
Então, vamos observar três formas desse argumento que constituem esses erros.
Deturpação da Trindade
A forma mais simples do argumento, a qual já ouvi de muitas Testemunhas de Jeová ao longo dos anos, é assim:
- O Pai fala com Jesus, e Jesus senta-se à mão direita do Pai.
- Isso significa que Jesus é diferente do Pai.
- Assim, Jesus não é Deus.
O problema aqui é que a doutrina da Trindade especificamente declara que Jesus não é o Pai.
O ponto principal desse argumento é mostrar que Jesus e o Pai são pessoas distintas, mas isso já é exatamente o que a doutrina da Trindade ensina!
O Trinitarianismo acredita que:
1) existe um, e apenas um ser que é Deus e 2) o único Deus tem existido eternamente em três pessoas distintas. Então fatos tais como o Pai enviar o Filho, o Filho orar ao Pai, e o Filho sentar ao lado do pai é exatamente tudo o que um Trinitariano esperaria ver. De fato, nós vemos frequentemente no início do evangelho de João que Jesus, o verbo eterno que se fez carne, é explicitamente tratado como estando com Deus e também sendo Deus, o que é exatamente o que a doutrina da Trindade ensina:
“No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.” (João 1:1-2)
O mero fato de o Pai e o Filho estarem presentes no Salmo 110:1 como duas pessoas distintas não é nenhum desafio para a doutrina da Trindade.
Falsas suposições acerca de Função vs. Natureza
Uma segunda versão um pouco mais bem pensada do argumento não discute acerca da mera distinção entre as pessoas mas sim a aparente disparidade em sua posição. “Se Jesus está à direita do Pai” eles apontarão, “Não é esta uma indicação de que Jesus é menor que o Pai?” Eles dizem que a posição à direita da mão do rei era uma posição abaixo do próprio rei. Era um posto honrado, mas a honra vinha do fato de o rei, que era o mais importante, dar à você (um oficial inferior) o privilegiado lugar que ficava ao seu lado. Sentar-se à direita de Deus era certamente um posto alto, eles vão dizer, mas era uma posição mais baixa que a do próprio Deus. Tal conclusão, no entanto, é um erro grosseiro.
Antes de mais nada, é preciso notar que se alguém é inerentemente superior a pessoa à sua direita, o Salmo 110 também diz que o Filho é superior à Deus! Enquanto o verso um fala sobre o filho sentado à direita do Senhor, mais tarde o Salmo também diz:
“O Senhor, à tua direita, ferirá os reis no dia da sua ira.” (Salmo 110:5)
Então, o Senhor também é dito como estando à mão direita do Messias. Nós, por isso, não podemos ler inferioridade na cena da “mão direita”.
Mais importante, no entanto, é que temos que abordar a suposição principal:
Só porque duas pessoas exercem diferentes funções, não significa que uma delas é inferior em essência. Eu sou sujeito ao meu pai terreno, existe submissão voluntária e autoridade amorosa entre nós. E mesmo assim, ainda somos homens, ainda somos da mesma natureza. Somos iguais em essência mas distintos em função. O mesmo é verdadeiro para minha esposa e eu. Nossas funções em casa são completamente diferentes, mas nós dois somos iguais em valor e na natureza de nosso ser. Quão mais seria este o caso das pessoas da Trindade, três pessoas que são literalmente o mesmo ser vivente? Quando Deus escolhe agir em criação e redenção, as pessoas da trindade assumem papéis diferentes e funções distintas no trabalho divino, mas essa diferença nos papéis e nas funções não significa que o Pai é um ser e o Filho é um outro ser menor. Como explica o estudioso Trinitariano, Dr. James White:
“Aqui temos uma verdade básica e simples que está perdida na maioria das discussões (ou argumentos) sobre o assunto: Diferença na função não indica inferioridade na natureza. Não é exatamente um argumento de cair o queixo é? Mas a maioria dos materiais produzidos por aqueles que se opõem a divindade de Cristo ignoram essa verdade básica. O que quero dizer? É até bastante simples. Peguemos um argumento bastante comum contra a deidade de Cristo: ‘O Pai é o criador de todas as coisas. Ele cria através de Jesus Cristo. Assim, Jesus Cristo não é totalmente Deus.’ Ou um outro argumento, agora contra a divindade do Espírito: ‘O Espírito é enviado para testemunhar de Cristo e convencer o mundo do pecado. Uma vez que o Espírito é enviado pelo Pai, Ele não pode realmente ser Deus.’ Ambos argumentos compartilham o mesmo erro: eles ignoram a verdade já citada acima; diferença na função não indica inferioridade na natureza.”
Então, o lugar do Filho à direita do Pai não faz dEle um ser menor. Apenas nos diz algo sobre os papéis e relações entre as pessoas da trindade. O retrato de Salmos 110 é perfeitamente consistente com a doutrina da trindade e de forma alguma mina a divindade de Cristo.
O Significado da Encarnação
A versão final e mais sofisticada do argumento aponta para o fato de o Pai mandar Jesus sentar-se à sua direita. Isso implica, eles argumentam, que Jesus então não estaria à direita do Pai anteriormente, e apenas naquele momento teria sido levado para tal posição. Eles ainda apontam para o comentário de Pedro sobre a passagem em Atos 2:
“De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelos de teus pés. Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” (Atos 2: 33-36)
“Exaltado pela destra de Deus…” “Tendo recebido do Pai…” “Deus o fez Senhor e Cristo” Essas frases não mostram que Jesus é menor que Deus e que foi exaltado até sua posição?
É importante aqui repetir o ponto feito em resposta a objeção anterior, em que distinções em funções e papéis não implicam em desigualdade de natureza, mas há ainda muito mais que precisa ser dito.
O Salmo 110 é um Salmo Messiânico; ele encontra seu clímax no prometido herdeiro de Davi que reinaria para sempre como rei de Israel e Senhor das nações. Essa profecia não é apenas sobre o filho de Deus como uma pessoa eterna do Deus trino, mas mais especificamente sobre o filho que habitou entre nós, “que nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (Romanos 1:3), de modo a cumprir a promessa de um rei perfeito e justo na linhagem de Davi, que expiaria os pecados e reinaria para sempre.
O salmo ainda diz que Ele seria “um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque,” (Salmos 110:4) e que também “domina no meio dos teus inimigos” (Salmos 110:2). É a promessa de um rei-sacerdote imortal! Um que serve tanto como alto sacerdote para fazer expiação, quanto para governar e julgar como senhor e mestre. É por isso que Jesus se tornou carne. O filho eterno de Deus não deixou de ser Deus, mas tomou para si a natureza humana, e vestiu-se de carne mortal. Como observamos no começo, o evangelho de João abre com o ensinamento:
“No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez,” (João 1:1-3).
O Verbo é Criador. Ele tanto está com Deus como é Deus. E nos é dito:
“O Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1:14).
Jesus veio ao humilde estado de humanidade, mas somos constantemente lembrados que:
“Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos,” (João 3:31).
“E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso, vos disse que morrereis em vossos pecados, porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.” (João 8:23-24).
“Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.” (João 3:13).
“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.” (João 6:38).
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.” (João 6:51).
E de várias outras formas somos lembrados que Jesus é o Verbo eterno e divino que veio do céu, e conforme o momento de sua morte se aproximava, ele orou:
“E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.” (João 17:5).
Então, o glorioso lugar à direita do Pai onde Jesus se sentou, era um retorno. Ele ascendeu de volta a glória celestial da qual tinha abrido mão por nós. Quando Paulo escreve aos Filipenses ele também nos lembra:
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;” (Filipenses 2:5-7).
Jesus existiu na forma de Deus mas tomou a forma humana em humildade. Foi Jesus, quem na carne, morreu pelos nossos pecados, e Jesus como um homem nascido na linhagem de Davi, segundo a carne que poderia ser designada Messias, o rei prometido. Para cumprir a promessa sagrada, o filho de Deus se tornou homem. Ele sofreu a morte humana, e em ressurreição tomou de volta sua vida humana e ascendeu como homem e Deus à mão direita do Pai. Ele reinará para sempre no trono de Davi como o nosso messias e Senhor. Assim, a profecia de Salmos 110 é cumprida, e nada disso contradiz a doutrina da Trindade.
Um visão neotestamentária de Salmos 110
Tendo respondido a objeção, vale a pena notar também o caso positivo que o Salmo 110 faz para a divindade de Jesus aos olhos dos escritores do Novo Testamento. Em três dos evangelhos, Jesus eleva o salmo aos seus críticos:
“E, estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, dizendo: ‘Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?’ Eles disseram-lhe: ‘De Davi.’ Disse-lhes ele: ‘Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho?’ E ninguém podia responder-lhe uma palavra, nem, desde aquele dia, ousou mais alguém interroga-lo.” (Mateus 22:41-46, veja também Marcos 12:35-37 e Lucas 20:41-44).
Assim, enquanto o messias (ou o Cristo) é realmente um filho de Davi segundo a carne, Jesus afirma que o Salmo 110 prova que o messias também deve ser algo muito maior. Davi chama o messias de Senhor, ou Mestre. No mundo antigo, um pai, e especialmente um rei, jamais chamaria o próprio filho de “mestre”. Para que o messias fosse o soberano de Davi, ele deveria ser algo muito maior do que só um herdeiro do trono. Então, de quem o messias é filho? Obviamente, Jesus aponta no evangelho, que ele é filho de Deus, e de uma forma muito única e poderosa.
Quando chegamos ao julgamento de Jesus, nós lemos:
“Mas ele calou-se e nada respondeu. O sumo sacerdote lhe tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus Bendito? E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus e vindo sobre as nuvens do céu. E o sumo sacerdote, rasgando os seus vestidos, disse: Para que necessitamos de mais testemunhas? Vós ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o consideraram culpado de morte.” (Marcos 14:61-64, veja também Mateus 26: 63-66).
Jesus combina a profecia de Daniel 7 sobre o Filho do homem com Salmos 110 e o messias que senta à mão direita, e as autoridades veem isso como blasfêmia e levam Jesus para a execução! Eles entenderam que ele estava se colocando como igual a Deus, e não como inferior a Deus.
Da mesma forma, no julgamento de Estêvão, no livro de Atos nós lemos:
“Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus. Mas eles gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos e arremeteram unânimes contra ele. E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram os seus vestidos aos pés de um mancebo chamado Saulo.” (Atos 7:55-58).
Estêvão é apedrejado por dizer que Jesus estava à direita de Deus como diz Salmos 110. Claramente, eles não viam isso como um sinal de inferioridade. O livro de Hebreus cita um salmo fazendo referência a Jesus:
“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu tono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amaste a justiça e aborreceste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros. E: Tu, Senhor, no princípio, fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos; eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e, como um manto, os enrolarás, e, como um vestido, se mudarão, mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão. E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés?” (Hebreus 1:8-13).
O filho é diretamente chamado de Deus, identificado como YHWH e eterno criador, e juntamente com essas citações o filho também é identificado como aquele à direita do Pai. Portanto, estar à direita de Deus é uma posição de igualdade com o Pai, e não de inferioridade. Jesus é Deus, o Verbo eterno, o Filho divino, a segunda pessoa da trindade. Ele senta à mão direita do Pai em glória, como Senhor de todas coisas.