Catolicismo

TRANSUBSTANCIAÇÃO E 1 CORÍNTIOS 10:16

 

Por Luke Wayne –

De acordo com o catolicismo romano, o pão e o vinho da refeição de comunhão se tornam carne e sangue do corpo humano de Jesus no momento em que o padre abençoa os elementos durante a missa. Essa doutrina é conhecida como “transubstanciação.” Católicos romanos algumas vezes defendem essa doutrina apelando para 1 Coríntios 10:16.

“Não é verdade que o cálice da bênção que abençoamos é uma participação no sangue de Cristo, e que o pão que partimos é uma participação no corpo de Cristo?”

Eles entendem isso de forma que, após o pão e o copo serem formalmente abençoados, participar da ceia é literalmente comer o corpo físico de Jesus. Ironicamente, isso é exatamente o oposto do que o texto implica. Lendo a passagem completa vemos:

“Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo. Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão.

Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar? Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou irritaremos o Senhor? Somos nós mais fortes do que ele?” (1 Coríntios 10.14-22)

Paulo diz que cristãos compartilham o corpo e sangue de Cristo ao participarem da comunhão da mesma forma que um israelita comendo a carne do sacrifício participa do altar. Note, Paulo não diz que nós compartilhamos no corpo de Cristo o modo como o israelita compartilha no cordeiro, mas sim que nós compartilhamos no corpo de Cristo da maneira que o Israelita compartilha no altar. A carne que o israelita come em sua casa o conecta com o que aconteceu no altar, mas a carne não é o altar. Um israelita não vai para casa e come pedaços do altar. Nessa passagem, Paulo não compara o corpo de Cristo com o sacrifício em si, o qual o israelita come, mas ao altar, o qual o israelita não come. De fato, o altar não está presente de forma literal quando o israelita está comendo, ele compartilha do altar por extensão ao comer o sacrifício, que não é o altar em si.

Paulo continua e fala daqueles que comem comidas oferecidas a ídolos (com certeza, esses são para quem ele realmente escreveu). Ele avisa tais pessoas para que elas não “participem com demônios”. A questão não é ter parte com o sacrifício, ou mesmo com o ídolo, mas ter parte com demônios. O sacrifício não é de forma alguma o corpo de um demônio, nem o é o ídolo. A passagem é clara quando diz, “Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa?” Não, aqueles que participam de sacrifícios pagãos não estão tendo parte com demônios porque a carne é parte do corpo de um, a carne é nada. Mesmo o ídolo, a estátua então chamada de deus a quem a carne é oferecida, é nada. Ainda assim, “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios.” Por trás do deus pagão existe um demônio enganando nações gentias. Participar num sacrifício pagão é compartilhar com demônios os objetos do ritual de adoração. O sacrifício e o ídolo são nada. Eles representam, no entanto, a real influência demoníaca por trás de tais atos idólatras. A preocupação de Paulo era acerca do que comer carne publicamente sacrificada poderia representar. Sua preocupação não era com o que a carne realmente é.

Claramente então, quando Paulo fala de “ser participante” em algo, ele não quer dizer “literalmente comendo”. O que cada um desses exemplos têm em comum é que a pessoa que tem participação em algo está comendo alguma coisa que não é literalmente a coisa no que a pessoa está tomando parte. No contexto dessa passagem, “ser participante” é participar por extensão, seja no corpo e sangue de Cristo, no altar santo ou com demônios. De fato, essa é a única forma do ponto de Paulo fazer sentido! Ele está explicando como alguém pode acreditar que a carne sacrificada é nada e ainda assim estar certo de que não deve comer tal carne.

“Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.” (1 Coríntios 10:21).

Quando nós verdadeiramente seguimos o raciocínio de Paulo, não faz o menor sentido se Paulo estivesse dizendo que o pão e o vinho são sagrados porque são literalmente a carne e o sangue do corpo humano de Jesus. Neste caso, não há comparação entre ter parte no corpo de Cristo ao comer seu corpo e beber seu sangue, e supostamente ter parte com demônios comendo a carne de animais que são só carne de animais e não têm nada com o demônio em si. O raciocínio de Paulo só faz sentido se o pão e o vinho não  forem a carne e sangue de Jesus. Só então pode haver alguma analogia entre a ceia do Senhor e a mesa de Cristo com a mesa dos demônios.

 

Matt Slick

Matt Slick é o presidente e fundador do Christian Apologetics and Research Ministry. Formado em Ciências sociais pelo Concordia University, Irvine, CA, em 1988. Bacharel em ciências da religião e mestre em apologética pelo Westminster Theological Seminary in Escondido, Califórnia