Apologética

Argumento Moral para a existência de Deus

Por Luke Wayne

O argumento moral para a existência de Deus é o argumento de que Deus é necessário para que existam valores ou deveres morais objetivos. Como os valores e deveres morais objetivos existem, Deus também deve existir. O argumento não é afirmar que as pessoas que não acreditam em Deus não podem fazer coisas amáveis ou que os ateus geralmente são pessoas moralmente piores que as pessoas religiosas. O argumento é afirmar que a única razão pela qual tais ações bondosas podem ser pensadas como sendo verdadeiramente e moralmente boas em qualquer sentido real ou objetivo é que Deus existe e o ateu está errado sobre Deus. Tais ações são objetivamente boas porque Deus realmente existe, mesmo que o ateu não acredite que Ele existe. Assim como aqueles que negam a existência de germes ainda podem ficar doentes porque os germes realmente existem, aqueles que negam a existência de Deus ainda podem fazer coisas boas porque Deus realmente existe, e assim existe um verdadeiro padrão de bem para possibilitar o “fazer o bem”.

O argumento moral da existência de Deus

O argumento é muito simples e pode ser estruturado desta forma:

Para um padrão moral objetivo existir, Deus deve existir

Um padrão moral objetivo existe

Portanto, Deus existe

Alguns cristãos tem preferido estruturar o argumento na forma negativa:

Se Deus não existe, valores e deveres morais objetivos não existem

Valores e deveres morais objetivos existem

Portanto, Deus existe.

Ambas as formas são essencialmente o mesmo argumento. Valores e deveres morais objetivos não podem existir sem Deus. Para negar a Deus, é preciso também desistir da ideia de que qualquer coisa está realmente certa ou errada em qualquer sentido real..

Objeções ao argumento moral

 A principal objeção a esse argumento é afirmar que valores morais objetivos não existem realmente. O ateu pode alegar que a moralidade é uma construção social. É uma ferramenta humana útil, um dispositivo social necessário que torna a sociedade possível, mas não há nada objetivo ou real sobre a moralidade além do que fazemos dela.

Nada é realmente bom ou mau. Estes são meramente julgamentos humanos subjetivos. Isso, no entanto, é uma afirmação radical a qual ninguém deveria levar muito a sério. De certo modo, não podemos provar que valores morais objetivos existem. Mas também não podemos provar que a realidade externa fora de nossas próprias mentes existem. Cada sentido e experiência que temos nos diz que existe um mundo físico real em que vivemos. Se alguém viesse te dizer que isso era realmente falso e que o mundo era uma ilusão, talvez que você estivesse preso em um sonho, como você poderia provar que eles estavam errados? O fato de tudo parecer muito real não prova nada como um sonho ou uma ilusão também pode parecer muito real. Ainda mais, se não há uma realidade real, qual seria o seu quadro de referência para chamar algo de real?

No entanto, é perfeitamente racional concluir que o mundo realmente existe. Mesmo aqueles que tentam negar isso devem viver como se fosse verdade.

Da mesma forma, todos os sentidos e experiências que temos nos dizem que algumas coisas realmente são boas e outras realmente ruins. Temos a certeza de que existem virtudes, males e injustiças reais, assim como sabemos que existem verdadeiras rochas, árvores e outros seres humanos.

 Imagine por um momento que um homem percebeu que toda a sua vida era apenas um sonho. Agora imagine que a reação desse homem a isso foi se apressar em seu mundo de sonhos e começar a estuprar todas as mulheres e bater todas as cabeças das crianças contra a parede. Algo estaria seriamente errado com tal pessoa. Podemos imaginar a realidade física sendo uma ilusão, mas mesmo assim é inimaginável que a realidade moral seja uma ilusão! Quando encontramos alguém que realmente vive como se não houvesse moralidade, chamamos essa pessoa de sociopatas e reconhecemos isso como um sério defeito. Eles estão falhando em perceber um elemento importante da realidade, assim como a pessoa cega ou surda não consegue perceber um elemento importante da realidade física, e nós corretamente entendemos que as sociopatias são um defeito muito maior do que mera cegueira física ou surdez.

Muitos salientarão que culturas diferentes têm morais diferentes e afirmam que isso é uma evidência de que a moralidade objetiva não existe e que é apenas uma construção cultural. Alguns têm muito convincentemente refutado que, por trás das diferentes expressões, há realmente um núcleo de princípios morais universais pelos quais todas as culturas realmente vivem. Mesmo que esse não seja o caso, a objeção não é logicamente válida. Muitas culturas ao redor do mundo têm ideias fundamentalmente diferentes de por que as pessoas adoecem, mas isso não invalida a teoria dos germes nem torna a causa da doença uma mera construção social. O fato de que muitas culturas ainda hoje, não acreditam em germes, e que a maioria das culturas ao longo da história não acreditava, não muda o fato de que os germes existem e que causam doenças.

Da mesma forma, só porque um grupo de culturas obtém a moralidade parcial ou totalmente errada não significa que a moralidade não exista. A moralidade é muito real, e a maioria de todos nós está realmente bem certa disso. Esta é uma posição racional.

A outra grande objeção é que a moralidade pode existir por si mesma sem Deus. Coisas como estupro e assassinato são realmente erradas, quer Deus exista ou não. O problema é que não há uma razão clara para isso. A biologia não pode fundamentar isso. Se a moralidade é um mero instinto, então não é objetiva. A moralidade é reduzida à mera percepção humana daquilo que pode ser mudada ou mesmo eliminada por completo. A moralidade também distingue os seres humanos dos animais de uma forma que a mera biologia não pode explicar. Uma truta que come outra jovem truta não é má, mas um homem que devora a filha do seu vizinho é muito malvado.

 A moralidade também não é uma lei física. A moralidade não opera em um mero sistema de ações e reações. O assassinato é errado mesmo se você obtiver os resultados desejados sem efeitos adversos, e se não houver um julgamento divino depois dessa vida, então há pessoas que realmente se livram da pena de assassinato.

As ações morais não exibem o sistema mensurável de causas e efeitos que as leis físicas exibem. Mesmo que se apresente uma força ou princípio moral impessoal e inconsciente como o conceito oriental do Karma, ficará aquém do objetivo.

Os budistas são bastante claros ao afirmarem que o karma não representa realmente a moralidade objetiva e não deve ser pensado dessa maneira. Não se trata de certo e errado moral, mas de mera causa e efeito e de obter os resultados desejados.

No karma, o estupro e assassinato não são moralmente errados, eles são apenas inúteis se o seu objetivo é a iluminação e escapar do ciclo de morte e renascimento. Simplesmente não há fundamento racional que tenha sido oferecido para a moralidade real e objetiva fora de um Deus pessoal.

Pontos fortes do argumento

 O argumento moral apela não apenas à mente racional, mas à convicção moral na alma de um homem. Fala mais para todo o ser da pessoa do que muitos argumentos meramente intelectuais o fazem. Também intimamente conecta a crença em Deus com o julgamento moral e a justiça de Deus, que se conecta mais prontamente ao evangelho do que a maioria dos outros argumentos. O argumento também é simples e fácil de lembrar e explicar, tornando-o acessível à maioria dos cristãos.

Pontos fracos do argumento

Como a existência da moralidade não é estritamente demonstrável, o argumento pode ser rejeitado sem ser devidamente considerado, independentemente de quão óbvia seja a moralidade objetiva. Também sofre com o fato de que, embora nenhum fundamento racional para valores e deveres morais objetivos além de Deus, tenha sido pensado, isso não significa automaticamente que não exista uma que ainda não tenhamos descoberto. Isso também pode ser usado para rejeitar o argumento na fé cega de que ainda existe um fundamento diferente para a moralidade que ainda não foi encontrado.

  1. William Lane Craig, Reasonable Faith: Third Edition (Crossway Books, 2008) 172

Matt Slick

Matt Slick é o presidente e fundador do Christian Apologetics and Research Ministry. Formado em Ciências sociais pelo Concordia University, Irvine, CA, em 1988. Bacharel em ciências da religião e mestre em apologética pelo Westminster Theological Seminary in Escondido, Califórnia