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Filipenses 2 e a divindade de Cristo

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, tendo plenamente a natureza de Deus, não reivindicou o ser igual a Deus, mas, pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo plenamente a forma de servo e tornando-se semelhante aos seres humanos.  Assim, na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, entregando-se à obediência até a morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:5-8).

Filipenses 2:5-8  é uma passagem extremamente importante a respeito da divindade de Cristo e da doutrina da Trindade . 

Explica que, antes de vir como homem, Jesus existia “na forma de Deus”. Antes de assumir a natureza humana, Jesus já existia com uma natureza divina. Ele não era apenas um anjo ou ser celestial. Ele estava “na forma de Deus”. Sua própria natureza era a de Deus. Assim como Ele posteriormente assumiria “a forma de servo” e seria “feito à semelhança dos homens”. Da mesma forma que Ele literalmente se tornou um homem, Ele era literalmente Deus. E, no entanto, a passagem também fala de “igualdade com Deus”, e os versículos que se seguem falam de Sua submissão a Deus e de trazer glória a Deus Pai. 

Assim, Jesus é Deus em Sua própria natureza, e ainda assim é pessoalmente distinto do Pai. Portanto, esta passagem não está apenas afirmando a divindade de Cristo, mas também a Trindade. O Pai e o Filho são Deus em essência ou ser, mas são distintos um do outro como pessoas separadas. O Espírito não está em vista aqui devido ao assunto principal ser Cristo, mas a premissa é clara: o único Deus vivo e verdadeiro existe como pessoas múltiplas, simultâneas e interativas. Tanto o Pai como o Filho são Deus, mas as Escrituras conhecem apenas um Deus verdadeiro e vivo. Assim, esta passagem ajuda a estabelecer alguns dos elementos essenciais da doutrina da Trindade.

Claro, existem objeções. Alguns argumentarão que esta passagem afirma que Jesus não tinha igualdade com Deus e nunca reivindicou ou procurou tal igualdade. Eles apontam para a afirmação de que Jesus “não considerava a igualdade com Deus uma coisa a ser alcançada”. Eles presumem que isso significa que Ele não tinha igualdade com Deus e nunca considerou ser como Deus. Por si só, a frase grega pode ser entendida dessa forma, mas esse não é o único sentido em que pode ser entendida. Também pode significar que Ele não considerava Sua igualdade com Deus algo a que se agarrasse ou segurasse com firmeza. A KJA e a JFAA, dizem respectivamente; “o qual, tendo plenamente a natureza de Deus, não reivindicou o ser igual a Deus”. “o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar”. As bíblias em inglês, NASB inclui uma nota de rodapé explicando o sentido como algo a ser “utilizado ou afirmado”, e a ESV tem uma nota de rodapé semelhante explicando-o como “ algo a ser mantido para obter vantagem”. Em outras palavras, os tradutores de praticamente todas as traduções modernas respeitáveis ​​entendem que o versículo significa que Jesus tem igualdade com Deus, mas, em vez de se apegar ao seu privilégio, assume a forma de um servo, tornando-se homem e enfrentando a cruz. Esse entendimento se ajusta melhor ao contexto. Observe cuidadosamente o que Paulo está defendendo. Nos versículos que antecedem esta passagem, ele instrui os Filipenses:

“Não façam nada por egoísmo ou vaidade, mas com humildade mental considerem uns aos outros como mais importantes do que vocês mesmos; não procure apenas os seus próprios interesses pessoais, mas também os interesses dos outros. Tenham em vocês a mesma atitude que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2:3-5).

A descrição de Jesus dada nos versículos 5-8 é, então, um exemplo desta atitude que devemos imitar. Agora, se Jesus não era Deus, Ele não é especialmente humilde por não afirmar ser igual a Deus. Os homens mais arrogantes que já conheci nunca afirmaram ser iguais a Deus. Eles eram bastante orgulhosos, mas nunca afirmaram partilhar o trono do Criador. Não há nada de especialmente humilde em não tentar se tornar Deus quando você não o é. 

Além disso, se Jesus é um ser celestial a serviço de Deus, e não é Deus, também não há nada de especialmente humilde em Ele se submeter à autoridade de Deus. Quando um funcionário faz o que seu chefe deseja, ele é zeloso, responsável e até honrado, mas não necessariamente humilde. Não há nada particularmente manso ou humilde em se submeter àqueles que obviamente já ocupam uma posição muito mais elevada do que você. Observe que Paulo não diz aos Filipenses para imitarem a humildade de Cristo, considerando Deus, o seu óbvio superior, como maior do que eles. Ele lhes diz para imitarem a humildade de Cristo, considerando uns aos outros, seus iguais essenciais, como sendo maiores do que eles mesmos. Isso é o que significa ser humilde. Jesus era igual a Deus Pai, mas Ele se humilhou e se submeteu ao Pai mesmo quando isso significou a cruz.

 Jesus tinha igualdade e a submeteu à glória do Pai. Isso é o que significa ser humilde, e essa é a atitude de Cristo que Paulo queria que os cristãos imitassem uns com os outros. A passagem só faz sentido quando entendemos que a igualdade com Deus Pai é algo que Jesus já possuía, mas optou por não aproveitar.

Finalmente, vemos que a passagem termina dizendo:

“Por esta razão também, Deus o exaltou sobremaneira e lhe concedeu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho daqueles que estão no céu, na terra e debaixo da terra, e para que toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:9-11).

É importante notar que isto se aplica a Jesus uma passagem do Antigo Testamento:

“Voltem-se para Mim e sejam salvos, todos os confins da terra; Pois eu sou Deus e não há outro. Jurei por mim mesmo: da minha boca saiu a palavra de justiça e não voltará atrás, que diante de Mim se dobrará todo joelho, toda língua jurará fidelidade” (Isaías 45:22-23).

Os versículos anteriores e posteriores deixam claro que quem fala é YWHW (Yahweh, Jeová). É o único Deus verdadeiro de Israel a quem todo joelho se dobrará e toda língua confessará, e não há outro Deus. Deus jurou isso e proclamou que era Sua palavra infalível e imutável. Jesus, que existiu como Deus, é aquele a quem todo joelho se dobrará e toda língua confessará. 

Jesus, portanto, é o único Deus verdadeiro ao lado do Pai. São duas pessoas distintas, mas são um Ser Divino; um Deus eterno.

 

Matt Slick

Matt Slick é o presidente e fundador do Christian Apologetics and Research Ministry. Formado em Ciências sociais pelo Concordia University, Irvine, CA, em 1988. Bacharel em ciências da religião e mestre em apologética pelo Westminster Theological Seminary in Escondido, Califórnia